quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mais uma execução bárbara



         Thiago Santos Viana, um jovem de 24 anos, foi barbaramente executado  pela Polícia Militar. Ele sofria de transtorno bipolar e há dois anos usava crack. Era um jovem que tinha problemas mentais e, portanto, gravemente doente. Precisava de um tratamento especializado e era obrigação do Poder Público oferecer o tratamento. Num desabafo desesperado, Sandra, a mãe de Thiago, pediu ajuda, mas ninguém a ajudou. Infelizmente, não temos políticas públicas para atender estes casos e o sistema de saúde - apesar das promessas dos políticos em época de eleições - é, em geral, um caos. Na realidade, o direito à saúde, que é um dos direitos fundamentais de toda pessoa humana, não existe para os pobres. O caminho mais fácil é eliminar aqueles que perturbam a "ordem". Em pleno século XXI estamos ainda na era da barbárie.
            Desde o início do mês de outubro, Thiago queria se matar. Quando estava drogado falava em suicídio. Segundo José Carlos de Andrade, tio e padrinho de Thiago, "ele perdeu o pai há um ano em um acidente de moto no trevo de Itauçu. Desde então, toda vez que bebia, deixava um pouco de bebida cair e dizia que era para o pai dele. Quando estava drogado, dizia que iria se encontrar com o pai. Que morreria no mesmo local. Essa era a intenção dele" (O Popular, Cidades, 19/10/10, p. 4). Thiago estava totalmente perturbado e desorientado. No dia 18 deste mês de outubro, furtou um ônibus da empresa Reunidas no Terminal Padre Pelágio e, de maneira descontrolada, percorreu diversas Ruas e Avenidas de Trindade e de Goiânia, deixando um rastro de prejuízos por onde passou.
Começou então a perseguição policial, que só terminou por volta das 15 horas, na Marginal Botafogo. "A PM cercou o ônibus em movimento, atirou nos pneus e no tanque de combustível e, já com o ônibus parado, atirou várias vezes em Thiago, que segundo a perícia, estava desarmado. (…) Foram 16 tiros no ônibus e pelo menos 7 na vítima. (…) Era o terceiro ônibus que ele furtava na tentativa de se matar" (Ib.). A perseguição policial culminou "na execução sumária do rapaz, o entregador Thiago Santos Viana, de 24 anos" (Ib.). O tio e padrinho de Thiago, que o considerava como um filho, desabafa, dizendo: "O ônibus estava parado, com pneus estourados. Ele estava desarmado. Estava louco por causa das drogas. A Polícia podia ter agido de outra forma" (Ib.).
Aqui está o conselho do tio e padrinho de Thiago à Polícia Militar: "agir de outra forma". Quando será que a Polícia Militar irá agir de outra forma? Precisamos de uma Polícia Militar que defenda a vida e não de uma Polícia Militar que mata sem necessidade e às vezes - parece - pelo gosto de matar. Reparem: sete tiros para executar Thiago. Ele estava desarmado e, mesmo na hipótese que estivesse armado, a Polícia Militar tinha todas a condições de prender o jovem sem matá-lo.
Pedimos à Secretária de Segurança Pública Renata Cheim que a execução de Thiago seja investigada e que os responsáveis por este assassinato sejam punidos. É uma questão de justiça. Graças a Deus, no Brasil não temos a pena de morte. Não podemos mais aceitar tanta violência policial. Precisamos urgentemente de uma "outra Polícia Militar" com  uma "outra formação". É o que todos nós esperamos.     
Fr. Marcos Sassatelli, Frade Dominicano 
    Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

Goiânia, 21 de outubro de 2010

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