sexta-feira, 13 de maio de 2011

Lula, o palestrante de luxo dos banqueiros e das multinacionais

No discurso da primeira convenção nacional do PT, em 1981, Lula afirmava que o partido então criado, era “uma inovação histórica” e vinha para livrar a classe trabalhadora da condição de “massa de manobra dos políticos da burguesia”. Dizia que o sindicato é a ferramenta adequada para melhorar as relações entre o capital e o trabalho, mas que o partido existe para ir além: “Queremos que os trabalhadores sejam os donos dos meios de produção e dos frutos de seu trabalho”. Afirmava que “o mundo caminha para o socialismo” e que o PT, com sua mística radical, não tinha como objetivo “buscar paliativos para as desigualdades do capitalismo” (Cf. Leo Lince. Lula, a metamorfose que ambula, 14/04/11 – www.correiocidadania.com.br). Lula, quem te viu e quem te vê!
Em fevereiro/11 escrevi um artigo com o título “Lula, um ex-operário deslumbrado pelo poder” (Cf. Diário da Manhã, Opinião Pública, 07/02/11, p. 18).  Hoje acrescento que Lula é também um ex-presidente - ex-sindicalista e ex-operário - obcecado pela fama. Como o ex-presidente Lula pode ser tão oportunista e renegar sua própria história; como pode ser tão ambicioso e tão ganancioso, até o ponto de - como palestrante de luxo a serviço dos interesses dos banqueiros e das multinacionais - vender sua própria dignidade humana, traindo seus ex-companheiros. É realmente um comportamento repugnante e totalmente antiético.
Vejam só que absurdo! Lula, o novo empresário e o novo rico, tornou-se o palestrante mais caro do Brasil. Segundo noticiou a imprensa, o ex-presidente cobra por uma palestra um cachê que vai de R$ 200 mil a cerca de R$ 790 mil (por enquanto!). Em março/11, a multinacional LG foi a primeira a contratar o Lula para uma palestra no Brasil, com cachê de R$ 200 mil. A multinacional Telefônica convidou o Lula para uma palestra em Londres, com cachê de cerca US$ 300 mil. Lula foi também a Washington, a convite da Microsoft, e a Acapulco, a convite da Associação dos Bancos do México. No dia 4 de maio/11, o Lula fez palestra em São Paulo, a convite do Bank of América Merril Lynch. Reparem: quando Lula vai ao exterior, viaja quase sempre em jatinho particular. Como custa caro o ex-operário, ex-sindicalista e ex-presidente Lula! Parece o mais valioso mascote dos detentores do poder econômico mundial! É inacreditável que ainda existam pessoas dispostas a ouvir as baboseiras do Lula, falando de si mesmo (se autoelogiando), dos feitos de seu governo e do aumento da presença (que tipo de presença?) do Brasil no cenário dos “donos” do mundo.
Sempre segundo noticiou a imprensa, o Lula aceitou também o convite da multinacional LG para fazer palestra na Coréia do Sul, com cachê de US$ 500 mil (cerca de R$ 790 mil). Se confirmado o evento na Coréia do Sul, em três ou quatro meses, a receita do Lula em moeda estrangeira chegará a US$ 1,2 milhão. Trata-se realmente de uma afronta aos trabalhadores (ex-companheiros de Lula) e de um pontapé na cara dos pobres. Trata-se de um dinheiro que é fruto da exploração dos trabalhadores pelas multinacionais e, portanto, de um roubo legalizado. O pior é que Lula sabe disso.
A assessoria de Lula não confirma o valor do cachê das palestras do ex-presidente e Paulo Okamoto - sócio do novo empresário petista Lula na empresa LILS - diz cinicamente que “é segredo de Estado” (Cf. Folha de S. Paulo, 04/05/11, p. A9). Que desrespeito para com o povo! Que vergonha!
Esses fatos são mais que suficientes para provar que Lula - como diz o sociólogo Leo Lince - é “a metamorfose que ambula”. Pessoalmente acho que, desde a campanha para o 1º mandato de presidente da República quando quis ganhar as eleições a qualquer custo e com qualquer meio, Lula traiu os trabalhadores, seus ex-companheiros, aliou-se aos detentores do poder econômico mundial e usou sua popularidade (melhor seria dizer: seu populismo) a serviço dos interesses deles.
Permito-me sonhar! Como seria diferente se Lula, em suas palestras, fosse aliado e porta-voz dos trabalhadores, denunciando a exploração das multinacionais e dos banqueiros (que, diga-se de passagem, no governo Lula tiveram o maior lucro já conseguido até o presente), as estruturas de injustiça e a iniqüidade do atual sistema econômico mundial. Nesse caso, seriam os movimentos populares e os sindicatos autênticos dos trabalhadores a convidar Lula para proferir palestras, e não os banqueiros e as multinacionais. Lula não ganharia cachês milionários, mas ganharia um cachê muito mais valioso que seria a felicidade de servir gratuitamente. Nada vale mais que a felicidade e a alegria da missão cumprida.
Em todo esse contexto, é mais do que oportuna a advertência do apóstolo Tiago,  também para os novos ricos como Lula: “E agora vocês, ricos: comecem a chorar e gritar por causa das desgraças que estão para cair sobre vocês. Suas riquezas estão podres, suas roupas estão roídas pela traça; o ouro e a prata de vocês estão enferrujados; e a ferrugem deles será testemunha contra vocês, e como fogo lhes devorará a carne. Vocês amontoaram tesouros para o fim dos tempos. Vejam o salário dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês: retido por vocês, esse salário clama, e os protestos dos cortadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos” (Tg 5, 1-4).

Lembremos: não são os milhões de dólares que fazem o ser humano feliz e realizado!
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 13/05/11, p. 5


Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG (aposentado)
Prof. na Pós-Graduação em Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Terra

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