terça-feira, 6 de setembro de 2016

Violência contra os Pobres: mais um despejo cruel



“São cruéis as imagens dos despejos forçados, dos tratores derrubando barracos, imagens tão parecidas às da guerra. E isso se vê hoje”
(Papa Francisco)

Na manhã do dia 15 de agosto do corrente ano, a Polícia Militar, mediante ordem judicial, realizou - com muita brutalidade e truculência - a desocupação de um terreno particular, localizado no Residencial Della Penna (Região Noroeste), em Goiânia. Que desumanidade!
A ação teve início por volta das 7h da manhã. Cerca de 500 famílias moravam na área, alegando falta de condições para pagar aluguel ou ter uma casa própria. Uma pá carregadeira foi usada para destruir as moradias, levando também os móveis e outros objetos. Os moradores tentaram retirar materiais usados na construção das casas e barracos. No local sobrou somente o rastro da destruição, com vários eletrodomésticos e materiais espalhados pelo terreno. A destruição causou revolta nas famílias e algumas pessoas, em protesto contra a ação da PM, atearam fogo num barraco de madeira e, por causa do vento, as chamas se espalharam por toda parte. Foi preciso acionar uma equipe do Corpo de Bombeiros para controlar o incêndio.
Um dos representantes do grupo de moradores, Rogério Cunha, informou que a reintegração de posse foi feita sem nenhuma negociação direta com as famílias e sem nenhuma solução para que o governo possa atender os desabrigados. Cunha ainda afirmou que as famílias desamparadas, que não têm casa de parentes ou amigos para se abrigar, serão levadas para a Prefeitura.
(Cf. http://www.dm.com.br/cotidiano/2016/08/500-familias-sao-retiradas-de-invasao-de-terreno-particular-em-goiania.html e http://www.ohoje.com.br/noticia/cidades/n/122242/t/familias-sao-obrigadas-a-desocupar-terreno).
Reparem a violência policial. Uma verdadeira barbárie! Vejam o vídeo que registrou alguns momentos dessa violência em:
Que atraso! Que vergonha para o Estado de Goiás e o Município de Goiânia!
Embora em proporções bem menores, repetiu-se o que aconteceu em 2005 na ocupação “Sonho Real” do Parque Oeste Industrial. É esse o comportamento “normal” da PM para com os trabalhadores/as. Parece até que a Polícia Militar foi formada para ter esse tipo de postura. Estamos mais uma vez diante de um caso de violência policial programada pelo Poder Público (o principal responsável), que com certeza - como aconteceu com os outros casos - ficará impune. Infelizmente, a nossa justiça é a “justiça” dos ricos e para os ricos. Os pobres não contam, são “sobras”.
De acordo com informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação de Goiânia (SEPLANH), o cadastramento das famílias que ocupavam o terreno já estava sendo acordado, mas as famílias “não souberam esperar”. Pergunto ao Secretário Municipal, Sebastião Leite Ferreira: esperar onde? No meio da rua? Por que as famílias - mesmo que fosse necessária a mudança de lugar - não podiam esperar o assentamento definitivo na ocupação?
Conforme foi publicado na mídia, o Secretário “tem bom trânsito entre empresários do setor imobiliário, já que advoga para grandes construtoras” (http://www.opopular.com.br/editorias/blogs/fabiana-pulcineli/fabiana-pulcineli-1.526/paulo-garcia-troca-secret%C3%A1rio-de-planejamento-1.1020130). Será mera coincidência?
Pergunto agora ao Prefeito Paulo Garcia: Por que não nomear um Secretário que tem bom trânsito entre os Sem-Teto? É uma questão de opção política!
Os poderosos deste mundo tomem cuidado! Deus está do lado dos pobres. “Eu ouvi o clamor do meu povo contra seus opressores e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo” (Ex 3,7-8). Como já disse em outra ocasião, os coronéis urbanos e rurais (grandes empresários do setor imobiliário e latifundiários) - que vivem da especulação e da exploração dos trabalhadores/as – lembrem-se: os bens materiais que com tanta ganância acumulam, na hora da morte não caberão dentro do caixão, mesmo que seja de luxo. E os governantes que - com a prática comum da propina - estão a serviço dos interesses dos poderosos, tomem cuidado também! Deus é justo!
No Brasil (sobretudo, em Goiás) os pobres são tratados pelo Poder Público (a grande maioria dos membros do Executivo, Legislativo e Judiciário) como “material descartável” ou “lixo humano”, e os Movimentos Populares (MST, MTST e outros) - que lutam pelos direitos humanos de todos/as - como organizações criminosas.
Que pais é esse? Que Estado é esse? Vivemos numa situação de guerra permanente, institucionalizada e legalizada, contra os trabalhadores/as. O Poder Público, com sua prática política, demonstra claramente que está a serviço dos detentores do poder econômico (uma minoria) e de seus interesses. O que prevalece sempre é a ganância por um lucro cada vez maior, às custas da miséria do povo. Em geral, os poderosos são verdadeiros criminosos de “colarinho branco”, mas fazem questão de se apresentar na sociedade como “pessoas de bem”. Que hipocrisia!
Enfim, manifestamos nossa total solidariedade e irrestrito apoio às famílias despejadas, vítimas da barbárie de um Poder Público retrógrado e ditatorial. Manifestamos também a mesma solidariedade e o mesmo apoio ao Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) - presente em Goiás e em muitos Estados do Brasil - e a todos os Movimentos Populares que lutam pelo direito à moradia de qualidade para todos/as, que - como diz o Papa Francisco - é um direito sagrado.
Em tempo: hoje, 31 de agosto/16, o Brasil está de luto! O golpe parlamentar aconteceu! A democracia foi gravemente ferida! Oremos! Continuemos a luta! Um outro Brasil é possível e necessário!




Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
Goiânia, 31 de agosto de 2016

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