sábado, 7 de abril de 2018

Medellín em gotas: 4ª- Centro da atenção da Igreja


A Introdução às Conclusões de Medellín - que têm como título “A Igreja na atual transformação da América Latina, à luz do Concílio” - começa dizendo que a Igreja “situou no centro de sua atenção o ser humano deste continente, que vive um momento decisivo de seu processo histórico. Assim sendo, não se acha ‘desviada’, mas ‘voltou-se para’ o ser humano, consciente de que ‘para conhecer Deus é necessário conhecer o ser humano’. Pois Cristo é aquele em quem se manifesta o mistério do ser humano”.
Diz também que a Igreja “procurou compreender este momento histórico do ser humano latino-americano (que inclui também o caribenho) à Luz da Palavra, que é Cristo. Procurou ser iluminada por esta Palavra para tomar consciência mais profunda do serviço que lhe incumbe prestar neste momento”.
E hoje? Será que a Igreja coloca realmente o ser humano deste continente latino-americano no centro de suas atenções? Será que procura compreender o momento histórico que estamos vivendo?
Fazendo a memória de sua história, a Igreja diz ainda: “Esta tomada de consciência do presente volta-se para o passado. Ao examiná-lo, vê com alegria a obra realizada com tanta generosidade: seria este o momento de exprimir o nosso reconhecimento a todos aqueles que traçaram o sulco do Evangelho em nossos países e que estiveram ativa e caritativamente presentes nas diversas raças, especialmente indígenas, do continente, àqueles que vêm continuando a tarefa educadora da Igreja em nossas cidades e nossos campos. Reconhece, também que ‘nem sempre’, ao longo de sua história, foram todos os seus membros, clérigos ou leigos, fiéis ao Espírito de Deus; ‘também em nossos tempos, a Igreja não ignora quanto se distanciam entre si a mensagem que ela profere e a fraqueza humana daqueles aos quais o Evangelho foi confiado’ (GS 43)”.
Com realismo e consciência de sua missão, declara: “Acatando o juízo da história sobre estas luzes e sombras, a Igreja quer assumir inteiramente a responsabilidade histórica que recai sobre ela no presente”. Hoje, a Igreja tem essa preocupação?
A Introdução, com muita objetividade, afirma: “Não basta, certamente, refletir, conseguir mais clarividência e falar. E necessário agir. A hora atual não deixou de ser a hora da palavra, mas já se tornou, com dramática urgência, a hora da ação. Chegou o momento de inventar com imaginação criadora a ação que cabe realizar e que, principalmente, terá que ser levada a cabo com a audácia do Espírito e o equilíbrio de Deus”. Hoje, a Igreja faz isso?
Esta Assembleia - continua a Introdução - foi convidada “a tomar decisões e a estabelecer projetos, somente com a condição de que estivéssemos dispostos a executá-los como compromisso pessoal nosso, mesmo à custa de sacrifícios”.
Por fim, reconhece: “A América Latina está evidentemente sob o signo da transformação e do desenvolvimento. Transformação que, além de produzir-se com uma rapidez extraordinária, atinge e afeta todos os níveis do ser humano, desde o econômico até o religioso. Isto indica estarmos no limiar de uma nova época da história do nosso continente. Época cheia de anelo de emancipação total, de libertação diante de qualquer servidão, de maturação pessoal e de integração coletiva. Percebemos aqui os prenúncios do parto doloroso de urna nova civilização”.
Conclui: “Não podemos deixar de interpretar este gigantesco esforço por uma rápida transformação e desenvolvimento como um evidente signo do Espírito que conduz a história dos seres humanos e dos povos para sua vocação. Não podemos deixar de descobrir nesta vontade, cada dia mais tenaz e apressada de transformação, os vestígios da imagem de Deus no ser humano, como um poderoso dinamismo. Progressivamente, este dinamismo leva-o ao domínio cada vez maior da natureza (que - em sentido bíblico - quer dizer: “ao cuidado cada vez maior para com a natureza”), a uma mais profunda personalização e coesão fraterna (de irmãos e irmãs) e também a um encontro com aquele que ratifica, purifica e dá fundamento aos valores conquistados pelo esforço humano”.
Como são atuais essas reflexões! Pensemos!





Fr. Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 4 de abril de 2018




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